quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Caminhos do protestantismo: Uma abordagem histórica sobre sua inserção no território brasileiro

Caminhos do protestantismo: Uma abordagem histórica sobre sua inserção no território brasileiro[1]
                                     
Albertino da Silva Lima[2]


Resumo


         Fazer uma exposição de toda a trajetória do protestantismo no Brasil necessita-se de muitas páginas para um trabalho mais apurado. Por isso, a pesquisa se atentou na parte introdutória, e mesmo limitando-se a introdução, percebe-se a riqueza histórica contida nela. Não foi fácil a inserção do protestantismo em solo brasileiro devido a força política e religiosa sustentada pela Igreja Católica desde a sua colonização. Bastian faz uma iniciação sobre o protestantismo na América Latina e traz um apanhado de sua penetração no Brasil, porém, Antônio Mendonça e Prócoro Filho centram-se na história da inserção desta vertente cristã no Brasil e neste diálogo vimos um país bem diversificado em seu aspecto religioso, e é justamente este caminho que esta pesquisa percorrerá.


Primeiros passos do protestantismo em solo latino-americano.

Este estudo sobre o processo de iniciação do protestantismo brasileiro é muito instigante e para fomentar um entendimento sólido sobre o assunto, utilizarei como base introdutória obra de Jean-Pierre Bastian intitulada de Historia del Protestantismo en América Latina, que dentro de sua estrutura histórica proporá uma elucidação do protestantismo em solo brasileiro.

Bastian inicia seus escritos fazendo um recorte temporal entre os anos de 1808 à 1959, neste recorte antes de adentrar o caminho religioso ele perpassa pela política, as revoluções francesa e americana e seus desdobramentos conseqüentes na América Latina. Os fatos nos mostram que é uma tarefa difícil dissociar a religião da história, uma se entrelaça na outra ainda que inconsciente, e devido a esse entrelace nas três primeiras décadas do século XIX houve um colapso revolucionário na América Latina, pois, as repúblicas que iam surgindo tinham em sua estrutura os ideais revolucionários. É explicitado pelo autor que há um interesse de manutenção entre religião e estado, isto é, o catolicismo como a religião ligada ao estado republicano.

As intenções do catolicismo e das repúblicas independentes são opostas, onde esta última tem um caráter ambíguo e não centralizado somente na política. As disputas colocaram em voga a possibilidade de um rompimento com a atual estrutura política e social e com isso deram margem ao surgimento de uma soberania popular[3]. O povo por sua vez se manifestava e buscava o que se passava na política e na economia do seu continente. Espanha e Portugal estavam perdendo seu monopólio e o objetivo intencional da nova ordem de cunho republicano estava sendo alcançado, que era permitir a abertura da economia não restringindo somente a duas nações, mas possibilitando uma comercialização internacional. Bastian mostra que o fantasma da escravidão colonialista se fazia presente e se posicionava como um freio frente à nova proposta de abertura econômica.

Logo após este ensaio histórico sobre o contexto estrutural econômico e político europeu, o autor vai entrar nas intenções e intervenções religiosas, mas precisamente iniciada pelo catolicismo. A Igreja Católica com seu monopólio religioso/político estava sobre maneira presente na Europa e o seu ideal era fundamental para trazer certo equilíbrio, pois além de possuir força ela também era detentora de uma enorme influência.

O interesse e o esforço pela liberdade se esbarravam na hegemonia da Igreja Católica, que devido a sua estrutura era a única instituição garantidora da nacionalidade. Este revés deu outro caminho aos novos estados, deslocando seus olhares revolucionários da França e dos Estados Unidos e se fixaram em Cadiz. A Europa começa a perder a sua referência dando espaço a um exemplo que vem de dentro; da América Latina, gerando um afastamento do centro dominador externando com isso as fuerzas centrífugas[4].

O texto desta pesquisa que introduz a inserção protestante na América Latina mostra o descontentamento com o monopólio Católico e deu início ao pensamento reformador que tinha um olhar crítico dentro do catolicismo, e esta criticidade se deu com as atitudes das sociedades liberais que idealizavam uma modernidade Cristã, uma reforma religiosa com ideais políticos e econômicos que teria sua gênese a partir de dentro. É explicito pelo autor que a intenção do clero crioulo[5] era de aproximação com as lojas maçônicas com a finalidade de criar um consenso entre o catolicismo e a modernidade, não abrindo mão de sua prática dominadora.

Percebo que Bastian se preocupa com o contexto histórico dentro de seu recorte temporal para tornar claro aos seus leitores como se encontrava o quadro político/religioso europeu e latino-americano, para então entrar na temática dos protestantes na América Latina. Preocupação louvável, pois, como explicar o advento de uma nova religião em um solo onde o catolicismo predominava?  O que propiciou a entrada do protestantismo? Foram as revoluções, as crises ou o grito do povo[6]? Esta preocupação deixa o seu texto na minha percepção mais interessante no quesito histórico/teológico, e isto permite que seus leitores tenham firmeza na temática onde estão entrando.  

            Os adeptos do protestantismo eram tidos como minorias frente à hegemonia católica, embora em pouco número lutassem pelos seus objetivos principais que eram a liberdade de consciência e de culto. Porém, para que isso acontecesse eles se aliaram ao liberalismo radical.

Esta posición específica de las minorías protestantes, como asociaciones disidentes que combatían a la iglesia católica en el campo religioso y defendían los princípios liberales que les habían dado acceso a este mismo campo religioso, hasta entonces monopolizado por la iglesia católica, explica también su constante alianza con las demás asociaciones liberales radicales anticatólicas como las logias masónicas, los círculos espiritistas y las sociedades mutualistas, por lo menos sus fracciones anticonciliadoras[7].     

            O que se pode tirar deste trecho é o que na verdade está se passando no início do protestantismo            , isto é, a força católica era bem maior e o protestantismo em minoria está em busca de estruturação e viu esta possível estruturação ao se aliarem aos radicais liberais, aos maçons e as correntes espíritas. Bastian mostra que os protestantes não teriam como subsistir às dominações católicas sem essas alianças, que mais tarde a Igreja Católica irá usar para atacar com fortes acusações o conteúdo desta nova corrente cristã. É embasado nesta leitura que o autor defende a tese de que as sociedades protestantes na América Latina foram sociedades de idéias[8] que trouxeram novas perspectivas e visões acerca do seu modus vivend.
           
Bastian deixa claro que sua pesquisa está endereçada a mostrar como se deu a relação entre o ato imigratório até a conquista pela liberdade de culto. Para palmear esta área ele se prende à segunda metade de o século XIX décadas que marcaram o advento das sociedades protestantes em países latino-americanos.

                                                                                        
O lado histórico e geográfico do protestantismo brasileiro



            A cristianização do mundo proposta pelo protestantismo estava expandindo em larga escala, ele não ficou preso na Europa, ganhou novos caminhos. A América Latina como observamos no tópico anterior foi um terreno fértil e ao mesmo tempo um campo minado, devido a hegemonia desenvolvida pelo catolicismo. A colonização brasileira foi feita por Portugal, cuja origem religiosa é católica. Foram aproximadamente quatro séculos de poderio político/religioso exercido pelos católicos, que interferiu veementemente na formação estrutural do Brasil. Esse longo período da Igreja Católica no poder, serviu como grande empecilho para a penetração do protestantismo.

            Para uma maior compreensão sobre o tema, será utilizada para a pesquisa a obra de Antonio Gouvêa Mendonça que retrata bem este processo desenvolvido pelos protestantes. Em seu livro “O Celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil”, Mendonça utiliza métodos e meios históricos na intenção de informar o contexto do Brasil neste período. Enquanto no século XVI a Europa estava vivendo uma explosão reformista, o Brasil estava dando os seus primeiros passos em busca de uma estrutura. O cristianismo reformado procurou espaço em terras brasileiras mesmo com as objeções católicas à tona.

            A França e a Holanda foram os países pioneiros na tentativa de implantação do protestantismo no Brasil, isso se deu logo após a colonização portuguesa em 1532, com a chegada da expedição de Villegaignon em 1555, que sobre, o amparo de Coligny, pretendia fundar a França Antártica e construir um refúgio onde os huguenotes pudessem praticar livremente o culto reformado.[9] O Brasil do século XVIII foi permeado por questões políticas e religiosas, este período foi conhecido como Brasil Colônia, a fim de conservar as origens do catolicismo na sociedade brasileira.

Em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa entrasse no Brasil a não ser a serviço da coroa ou da Igreja. Estrangeiros foram proibidos de visitar a Colônia. Em 1800, o Barão von Humboldt foi impedido de entrar na Colônia, pois o governo português informou ao seu representante no Pará que Humboldt podia influenciar o povo com “novas idéias e falsos princípios”. Isso naturalmente, porque o barão procedia de país protestante. Pode-se dizer que até a vinda da Família Real não houve mais protestante no Brasil. Com a profunda modificação política introduzida pela presença de D. João VI, principalmente por causa da dependência portuguesa em relação à Inglaterra, expressa no ato de abertura dos portos “às nações amigas”, é que protestantes anglo-saxões começaram a chegar e se estabelecer no Brasil, com relativa liberdade para as suas práticas religiosas.[10]

A presença protestante não era bem vinda no território brasileiro, pois os católicos os viam como ameaça à sua hegemonia. E quando gozava de liberdade, esta era limitada. Contudo, aos poucos o protestantismo foi ganhando terreno e expandindo suas doutrinas e formas de culto. Isso se dá no período conhecido como Brasil Império, onde se faziam diversos debates sobre a liberdade e convivência religiosa. Esta busca por liberdade religiosa deu direito para a venda da Bíblia e consequentemente a sua difusão foi feita por sociedades bíblicas estrangeiras bem antes da chegada e estabelecimento das missões protestantes, constituiu-se num fator ponderável da estratégia protestante de penetração.[11]

            A dicotomia política/religião é também um dos assuntos centrais do texto produzido por Bastian, ele enxerga o jogo político no processo de alfabetização quando as elites latino-americanas se juntam com os responsáveis das sociedades bíblicas com o intuito de alfabetizar, cristianizar e conscientizar a população, e por fim encorpar as minorias protestantes. A Bíblia teve sua importância neste período, pois a intenção de sua difusão era permitir que o povo tivesse um esclarecimento tanto político como também social e nem tanto religioso.

 El deseo de difundir la Bíblia por parte de las nuevas elites independendistas y la fracción liberal del clero, era una búsqueda a fin de completar las reformas política y económica  con una orientación de las ideas y de las creencias y que permitiera combatir el catolicismo colonial e imponer un catolicismo “ilustrado”, como “cemento” de las nacionalidades emergentes.[12]

            Esta citação clarifica a importância dada por Bastian à Bíblia como meio de proporcionar uma conscientização nas minorias, e ele para isso se utiliza dos termos: “ilustrado” e “cemento”, isto é, instrução/esclarecimento e firmeza. Não a interpretando em seu sentido poético e espiritual somente, mas com vieses políticos, econômicos e sociais. Pois, doravante desencadeou tratados comerciais com paises protestantes e acarretou na difusão do protestantismo na América Latina, que devido o tratado anglo-português de 1810 abriu-se uma concessão para o protestantismo dar seus primeiros passos em solo latino-americano, Rio de Janeiro - Brasil[13].
           
Embora Bastian cite outros países latino-americanos, ele delimita sua pesquisa no Brasil, México, Argentina e Uruguai como primeiros países que receberam os imigrantes protestantes e católicos da Europa procurando conciliar a sua política de imigração, mais precisamente México e Brasil, pois, as políticas de imigração da Argentina eram parecidas com a do Uruguai. Para não deixar sua pesquisa flutuante, percebo que o autor resolve a questão imigratória e logo em seguida se envolve com os conflitos sociais para trazer em tese os assuntos pertinentes à tolerância religiosa e liberdade de culto, que em cada país se diferenciava de acordo com suas instituições.   

            Não é difícil de perceber a influência do protestantismo norte-americano no Brasil, com seu comportamento voltado não somente para o aspecto religioso, mas para a ética e a moral que para eles era tão importante quanto a o caráter espiritual da religião. Ética tal que para Bastian é chamada de “capas sociales”, servia como causadora de lentidão para o capitalismo em expansão. Antônio Gouvêa e Prócoro Velasques seguem a mesma linha de Bastian ao se pronunciarem a cerca deste envolvimento norte-americano no protestantismo brasileiro, quando afirmam que “o protestantismo brasileiro segue sendo uma projeção do protestantismo norte-americano. Direta ou indiretamente, as igrejas brasileiras, ao menos as de origens missionárias, alimentam-se do ideário da religião civil norte-americana. Como nem sem sempre as igrejas norte-americanas são fiéis ao antigo ideário dos fundadores da sua nação, consubstanciado na religião civil, há choques e atritos que se propagam como que em ondas até as igrejas brasileiras”.[14]
           
A presença dos missionários passa a ser um diferencial neste processo na visão de Bastian, pois eles poderiam exercer outros ofícios que na verdade somariam com as idéias liberais ligados ao capitalismo e aos Estados Unidos. Além de todos os seus predicados morais e espirituais o missionário era um agente da economia capitalista. A presença norte-americana também era notada com o auxilio de sua doutrina predestinatória do “destino manifesto” nos arredores latinos. 

Así de la misma manera que a lo largo de la frontera del oeste el o cristianismo evangélico coadyuvó a huamanizar las condiciones de producción em América Latina, los misioneros sentían como tarea esencial transmitir “alôs hermanos menores” la experiencia espiritural y material de la fronteira. Eran los portadores de este “destino manifesto”, cuya lección objetiva se leía em la realidad de los Estados Unidos. Creían que iban a conducir a los latinoamericanos de la tinieblas a la luz del progreso. Ellos decían tener la certeza u “la confianza de que el Dios que les había evangelizado primero y luego dinamizado, multiplicado, y bendecido sobre todos los demás países, armándolos con acero, vapor y luz eléctrica, y enviándolos a ser vanguardia de la humanidad” iba a dar uma nueva oportunidad a los hermanos latinos “para aceptar el evangelio y recobrar sus derechos de nacimiento”.[15] 
             
         Com diversos assuntos e áreas importantes que correspondem ao texto se faz atento a cada parte que envolve estes primeiros passos do protestantismo no continente latino-americano, esta atitude o faz perceber a importância da análise geográfica em seu discurso de expansão das sociedades protestantes. Pois, para ele o acesso a esta geografia permitiria uma imagem mais esclarecida dos elementos deste protestantismo, que por sua vez percorre diversas áreas tanto urbanas quanto rurais. Esta percepção geográfica fez com que Bastian se atentasse para o que estava por detrás da figura do missionário, pois em seu escrito ele faz uma afirmativa que tira do missionário esta função de semeador do protestantismo.[16] 

En otras palabras, no era el misionero el que había utilizado los canales liberales radicales y las redes ya existentes para difundir modelos asociativos protestantes que venían a reforzar reivindicaciones preexistentes de tipo liberal radical.[17]
           
Percebe-se um protestantismo não homogêneo, mas influenciado pelos meios de politização e pela economia como exemplifica o autor sobre a dinâmica produzida pelo café no Brasil. E sendo assim o protestantismo ganha força no Brasil fundamentado no eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais, como também era visível o avanço do republicanismo. É clarividente que as sociedades protestantes tiveram progresso com o auxílio dos missionários americanos que tinham em sua bagagem missionária o convênio com maçonaria, onde também nem todos eram a favor desta parceria e o que veio acarretar no cisma Presbiteriana em 1903, mas é notória a influência e importância que este envolvimento teve para a propagação geográfica destas sociedades protestantes não só na América Latina, mas, também no Brasil. 

            O que proporcionou um crescimento e estabelecimento do protestantismo foi a postura conservadora do catolicismo na Europa, que tinha como pano de fundo sua oposição explicita ao liberalismo. Em contra partida Bastian propõe um despertar católico mais estruturado na maioria de suas áreas, não obstante, esta posição foi importante na escolha do pensamento positivista no Brasil, direcionado pelos liberais conservadores.

            A geografia para Bastian também era uma ferramenta indispensável para o estudo do avanço que atingiram as sociedades protestantes, e ao entrar neste assunto ele se atém primeiramente ao México, pois para ele foi o país pioneiro neste processo expansivo. Este movimento protestante iniciou em primeiro lugar nas regiões rurais devido ao seu ponto alto na economia que se deu em seu distanciamento dos centros estatais. O índice expansivo do protestantismo nas sociedades rurais é bem relatado segundo a ótica do autor, para ele foi isso que proporcionou um movimento gradual e importante dos protestantes. Crescimento que mais à frente ocasionou o encontro com os protestantes rurais e os urbanos. Um choque de ideais. Houve troca de benefícios, mas ao mesmo tempo havia uma conservação de ideologias entre ambos.

            Com os ideais políticos conservados, Bastian defende categoricamente que a presença de um missionário não teve muita influência na propagação do protestantismo, na visão dele quem teve maior participação neste processo foram os liberais radicais e as lideranças nacionais na corrente heterodoxa. E esta parceria foi o estopim para o início de um protestantismo moderno e capitalista. E essa idéia de implantação do protestantismo sem missionário se estendeu até o Brasil, segundo as pesquisas produzidas por ele, onde o mesmo percebe que o meio rural é um ótimo caminho para a proliferação de um protestantismo pioneiramente presbiteriano. A visão geográfica de Bastian é bem semelhante, ao tratar de expansionismo protestante entre México e Brasil, os moldes são os mesmos.

            Destaca-se também que o progresso do protestantismo não está separado do progresso do republicanismo brasileiro que estava em seu início, ambos andavam e cresciam juntos, percebe-se pela intenção do autor certa dependência e troca de benefícios entre ambos. A religião se embaraçando mais uma vez com a política.

            É evidente no texto de Bastian o destaque que ele dá ás associações que o protestantismo fez com a maçonaria, que em sua pesquisa mostra a projeção protestante impulsionada pela maçonaria e que por sua vez era alvo do catolicismo. Não obstante, esta aliança era uma realidade na sociedade e no protestantismo brasileiro.

La pertenencia a diversas sociedades no tardó en ser criticada por distraer los cuadros protestantes de su actividad exclusivamente religiosa. Fue, sin embargo, vana porque los mismos misioneros norteamericanos eram en su mayoría miembros de logias masónicas. En Brasil, el lazo entre las logias republicanas y las sociedades protestantes y sus primeros dirigentes fue particularmente estrecha . No deja de sorprender, sin embargo, el movimiento indepediente dirigidopor el pastor Carlos Pereira, quien realizó a partir de 1898 una campaña cuyo o tema era la imcompatibilidad entre la adhesión a la masonería y ser miembro de la Iglesia Presbiteriana, lo que provocó en 1903 un cisma en esta iglesia[18] .

            Em meio há tantas divergências, houve uma divisão proporcionada pela conveniência de alguns com maçonaria, esta cisão não interferiu no avanço geográfico e social do protestantismo, há um progresso na educação de pessoas analfabetas que não tinham acesso ao ensino que era restrito à elite, contudo as sociedades protestantes forneciam em suas comunidades ensinos primários e é bem nítido que os valores e intenções a favor da democracia estavam presentes, e é o que ele vai chamar de pedagogia liberal e democrática.

            O foco de Bastian em seu recorte temporal faz com que ele perceba os movimentos minuciosos do protestantismo e do catolicismo, enquanto o primeiro vai ganhando terreno o segundo vai se preparando para uma nova evolução. Ele mostra que o catolicismo não está inerte aos acontecimentos. O que se vê na verdade não é uma luta com preocupações religiosas, e sim de poder político. A oposição ao liberalismo é o que dá força para a ação do que ele chama de catolicismo conservador em contraposição ao catolicismo liberal que ocorria no mesmo período.

            Estes acontecimentos acarretaram diversas ações, como a separação da Igreja e Estado no Brasil que foi tida como positiva para a igreja católica que se via como imóvel perante as ações do império. Este rompimento deu liberdade à igreja que pôde desenvolver seus ideais sem prestar contas. Se por um lado o protestantismo se difundia, por outro houve um despertar católico, os colégios de ordem católica se reformularam e expandiram os seminários para a formação de líderes e tiveram projeção geográfica com o intuito de propagar e estruturar suas teses teológicas e políticas. Esse despertar colocou um freio no progresso protestante, mesmo que por pouco tempo.   

Protestantismo e institucionalização de Igrejas no Brasil

            Torna-se impossível falar em protestantismo no Brasil sem citar o catolicismo. A hegemonia católica sofrera um forte impacto com a política de penetração protestante. A passagem para o século XIX, foi importante para o avanço missionário na América Latina. As conferências de Edimburgo (1910) e no Panamá (1916) foram fundamentais, e serviram de críticas contra a forma religiosa aplicada pelo catolicismo. “A idéia da conferencia de Edimburgo de “cristianizar” como símbolo de “colonizar” era encarnada pelas missões no âmbito da teologia calvinista do “reino de Deus” e “povo escolhido”. O conceito de “reino de Deus” foi encampado pelo “sonho americano” assim como o de “povo escolhido” para expandir o reino”.[19]
           
            No século XIX o Brasil passa a ser o campo missionário em vigência. Os missionários norte-americanos dotados da teologia Wesleyana trazem em suas bagagens uma nova maneira de praticar a fé. Para o metodismo a conversão tinha um caráter totalmente individual, pregava-se um desligamento imediato com sua cultura e seu modo de vida pagão. Em seguida o meio conversionista passou a dominar as lideranças nacionais. O individualismo predominava e poderia causar um enfraquecimento nas igrejas institucionalizadas. A utilização da Bíblia também foi um dos motivos de conflitos. A interpretação que se faziam do texto eram voltadas para o estabelecimento de seus partidos e ideais religiosos.

 Congregacionais

            As diversas interpretações sobre os textos bíblicos e ideais religiosos diferentes serviram para o surgimento de vertentes protestantes no cenário religioso brasileiro. Dados históricos nos afirmam que a primeira corrente protestante a se inserir no Brasil foi o congregacionalismo no ano de 1855, Robert Kalley e sua esposa Sarah Kalley foram os fundadores da Igreja Congregacional no Brasil, vejamos o que dizem Antônio Mendonça e Prócoro Filho:

A Obra de Kalley, além de ser pioneira do protestantismo de missão no Brasil, insere-se no grupo de igrejas missionárias norte-americanas pela sua natureza teológica, a mesma dos avivamentos religiosos que ocorreram na Inglaterra e se transfeririam para os Estados Unidos na passagem do século XVIII para o século XIX.[20]

            O meio que os Kalley escolheram para a propagação de sua teologia foram os hinos de suas autorias, que continham suas visões e pensamentos acerca de do amor de Deus e do que significa o protestantismo. A crença e pregação no amor de Deus contribuíram para distinguir o teor da pregação produzida pelos pastores e teólogos puritanos ingleses. O amor de Deus pregado pelos Kalley é universal e não predestinado, contrariando a teoria calvinista e individualista da predestinação. O que podemos resumir da Igreja Congregacional é que sua linha doutrinária é bem conservadora e opositora de relacionamentos ligados ao ecumenismo e “sua composição social é de classe média; sua liturgia se situa no plano das Igrejas livres, isto é, não-litúrgicas, e sua atração simbólica é a da maioria das igrejas missionárias: quase nula.[21]

Presbiterianos

            O protestantismo de missão foi se estabelecendo em solo brasileiro de acordo com a liberdade religiosa consentida, logo após os congregacionais vieram os presbiterianos liderado pelo missionário norte-americano Simonton em 1859. Visto que a maioria dos missionários vindo para o Brasil são de origem norte-americana. A teologia e doutrina presbiteriana são tiradas de João Calvino. O presbiterianismo ainda contribui para o desenvolvimento da educação brasileira com suas escolas e Universidades. Mesmo com as divisões políticas e religiosas que resultaram em correntes presbiterianas diferentes o protestantismo trazido e praticado no Brasil tem suas grandes contribuições religiosas.

            Em seu aspecto presencial no solo brasileiro as missões presbiterianas carregam em suas categorias um caráter moralista, onde a postura e conduta humana tem uma interferência nas perspectivas soteriológicas. Segundo Antônio Mendonça e Prócoro Filho “a inserção presbiteriana no Brasil deu-se na camada livre e pobre da população rural. Atualmente, entretanto, seus membros situam-se predominantemente na camada média da população.”[22]

Metodistas

            A história registra que o crescimento dos metodistas tem um total envolvimento com a prioridade educacional dada a aberturas de colégios e universidades, não obstante, deu-se pouca atenção ao evangelismo, que era uma ferramenta bastante utilizada pelos presbiterianos e batistas. Sua teologia também é de origem norte-americana, porém, o seu crescimento não foi tão notório como as demais Igrejas protestantes. Contudo, o estabelecimento dos metodistas no Brasil se deu em 1886.

Batistas

            Assim como os metodistas e os presbiterianos, os batistas tiveram um interesse na educação, porém, não investiram em instituições de ensino como colégios e universidades. Os batistas tiveram sua origem registrada historicamente em 1882. O crescimento dos batistas se deu com a liberdade religiosa concedida pelo governo republicano e isso acelerou o seu crescimento que era tido como lento devido as objeções católicas. Sua teologia não difere muito das outras instituições, e isto deve-se a sua ligação com os missionários norte-americanos. O seu crescimento se relaciona com a sua localização urbana e sua intensa dedicação ao evangelismo.

Concluindo
        
         É um trabalho árduo e gratificante ao mesmo, se propor em fazer uma pesquisa sobre o a penetração e inserção do protestantismo no Brasil, e deixando de lado a veia religiosa e se ancorando principalmente em seus argumentos históricos. Foi preciso traçar um caminho relacionado ao protestantismo na América Latina, para então adentrar em suas ações e conseqüências. Acabamos de ver na presente pesquisa um país fechado de início, mais aberto com o passar do tempo e com as mudanças políticas em sua concepção religiosa. O estabelecimento dessas instituições trouxe benefícios para o Brasil, principalmente para a educação que teve avanço com a implantação de colégios e universidades.

            Portanto, ver o protestantismo no Brasil significa além de uma nova corrente religiosa, um meio de organização diferente do que antes era estabelecido. O acontecimento central destacado pela pesquisa está na sua ênfase no protestantismo e seus desdobramentos que traz uma unificação de fatos que encorpam e dão vida a este importante ocorrido que transformou e transforma corriqueiramente o cenário religioso brasileiro.   


Bibliografia

BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990.

DUSSEL, Henrique D. Caminhos da Libertação Latino-americana – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984. p 91

MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir: A inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo. Ed. EDUSP. 2008. p 38.

MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 13.




[1]  Monografia apresentada à disciplina História e Teologia do Cristianismo na América Latina, II semestre de 2015, com vista à aprovação na disciplina.
[2]     Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Bacharel em Teologia pela Faculdade Unida – Vitória – ES. Licenciado em História pela Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) – RJ.
[3]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 98
[4]    BASTIAN, 1990, p. 98. A escolha por este termo está bem esclarecida pelo o autor, que pretende informar a pretensiosa cisão com o centro e por fim formando novas correntes de forças independentes.
[5]     Descendentes de espanhóis nascidos na América.
[6]    Esta idéia de grito é bem exposta por Enrique Dussel, onde ele argumenta que este grito faz exigência a uma resposta imediata dando assim a responsabilidade devida à religião. “Tenho fome!”. DUSSEL, Henrique D. Caminhos da Libertação Latino-americana – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984. p 91
[7]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 100.
[8]     BASTIAN, 1990, p. 101.
[9]     MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir: A inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo. Ed. EDUSP. 2008. p 38.
[10]     MENDONÇA, 2008. pp, 41-42.
[11]     MENDONÇA. 2008. p, 44.
[12]    BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, pp. 104-105.
[13]       BASTIAN, 1990, p. 106.
[14]    MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 13.
[15]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 132.
[16]     BASTIAN, 1990, p. 131.
[17]     BASTIAN, 1990, p. 135.

[18]     BASTIAN, 1990, pp. 138-139.
[19]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 32.
[20]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 34.
[21]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 35.             

[22]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 37.

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