quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Desdobramentos da magia: Uma análise introdutória e suas representações no Cristianismo Primitivo

Desdobramentos da magia: Uma análise introdutória e suas representações no Cristianismo Primitivo[1]
Albertino da Silva Lima[2]

 Resumo
            Não há uma pesquisa sem um intuito diretivo, e a maioria são permeadas por pressupostos, afim de alcançar o objetivo desejado. A preocupação fundamental ao tecer esta pesquisa, foi produzir textos com conteúdo polissêmicos acerca da magia de um modo geral e depois, mais especificamente no Cristianismo Primitivo. E isto só foi possível, com o auxílio de literaturas apócrifas, pois contém em suas narrativas exposições mais coerente e conclusiva sobre o tema abordado.  
História e conceituação da Magia
            O assunto a ser abordado é demasiadamente delicado principalmente no campo religioso cristão, pois, este termo não soa harmonicamente aos ouvidos de seus adeptos. Há inúmeras discussões sobre o aspecto hierárquico, de quem veio primeiro: a magia ou a religião? Para alguns estudiosos a magia surgiu dentro de pesquisas de fórum religioso, pois, para outros, a magia antecede a religião. Dados e conteúdos históricos sinalizam para a história antiga da civilização, onde reza a lenda de que homens eram visitados assombrosamente por seres espirituais e estes apelavam por socorro nos rituais mágicos praticados pelos seus sacerdotes.
Ao sair da “história enquadrada” nos relatos bíblicos sobre a origem da humanidade, e utilizando fontes históricas mais amplas, obtemos contatos com relatos de povos que viviam na bacia dos rios Tigre e Eufrates, que tinham como naturalidade cotidiana a prática da magia muito antes do conceito “religião”. O imaginário demoníaco já fazia parte de seu contexto social; com assombrações, espantos e interferências direta no viver físico. A luta entre as forças do bem e do mal, não é iniciada nos textos bíblicos, ela os antecedem, de acordo com Kurt Seligmann “os demônios eram poderosos, capazes de matar o homem e o animal, embora lhes fossem impossível destruir completamente a vida ou perturbar de forma permanente a ordem da natureza”[3]. O ritual mágico era feito não somente com atos físicos e visuais, a palavra também era um tipo de recurso prático de evocar a magia. Palavras de cunhos mágicos muitas delas sem nexo ortográfico, eram presentes nesses rituais praticados pelos: babilônios, sumérios, acadianos, egípcios, medos e persas.
            Ao trabalhar os aspectos místicos da magia Carlos Sell e Franz Bruseke tomam partido da tese que defende a magia como antecessora da religião, para este fim, eles se embebedaram do conteúdo sobre a magia nos conceitos desenvolvidos por Marcel Mauss (1852-1950) que também teve influências de teóricos como: Tylor, Wilken, Hartland, Frazer, Jevons, Lang e Oldenberg. Os estabelecimentos desses diálogos foram importantes para Sell e Bruseke no direcionamento de suas pesquisas relacionados a hierarquia primaz da magia sobre a religião, vejamos o seguinte texto:

Uma delas, formuladas por Frazer, é de que magia representava o primeiro estágio mental do primitivo, unindo todo um universo místico /religioso e cientifico de forma embrionária. A religião teria surgido, nesta perspectiva, da experiência mágica, que não conseguiu a resistência do mundo contra suas formulas e rituais[4].

Ao chegar a esta afirmativa sobre a primazia da magia, foram envolvidos vários teóricos pesquisadores deste tema, e nisto percebemos a delicadeza do assunto. Esta afirmação não se deu repentinamente e de forma aleatória. Houve diálogos maçantes. Apontar o ponto de gênese da magia não é o interesse dos autores, mas a aproximação por meios de pressupostos, que engendra a uma possível descoberta. Observando a citação à cima percebemos que a origem da magia está ligada ao imaginário e não ao material/visível. Talvez essa seja a objeção da descoberta do seu ponto inicial. Por isso, embrionária. Na concepção dos autores com seus teóricos em discussão, a religião surge como ferramenta de estudo para a magia e suas experiências, e não o contrário.
            Atento para as discussões acerca da magia, observo que pelo seu lado renegado pela sociedade ela se torna obtentora de caracteres não religiosos, trazido pela Idade Média com suas ideias, interligando a magia ao diabo e seus demônios. Tecer uma preocupação sobre o lado dogmático da magia, torna-se em perda de tempo, visto que ela não se prende a isso. Mesmo que aparentemente seja o contrário, a magia se ocupará com suas manipulações e com os resultados extraídos por elas. A conclusão rápida de Sell e Bruseke é que “a magia não gerou instituições como a religião, não se complexou como ela, não fundamentou uma igreja”[5]. O uso deste termo “complexou” evidencia uma problemática embutida na religião devido a sua institucionalização, o que não houve com a magia; na concepção dos autores esse é um ponto bastante positivo para a história e prática da magia.

Diálogos e interface da Magia em relação a Ciência
            As práticas mágicas antecedem a religião e até mesmo a ciência. Não é uma falácia essa afirmação, visto que nas civilizações antigas era frequente o uso de ervas para a produção de tranquilizantes, pílulas anticoncepcionais e outras drogas que sofriam manipulações para uso medicinais. Já é possível perceber a problematização que deriva destas composições magia/religião e magia/ciência, fora detectado e destacado por via de pressupostos a antecedência de práticas magicas antes do conceito que temos de religião; agora percorreremos o mesmo caminho no diz respeito ao caráter antecessor e contribuinte da magia para a ciência.
            Não é preciso ir muito longe para perceber que a magia surgiu antes da ciência “legalizada”, no território brasileiro vimos na cultura indígena a manipulação de ervas para fins medicinais. Nos povos primitivos isso era recorrente. Já que o tempo considerado como a “Era da Ciência” foi no século XVI com o advento do Iluminismo, como se dava o procedimento para a obtenção de curas? É neste ínterim que entra em cena o mago e o curandeiro, com o uso demasiado de suas técnicas para a elaboração de produtos com efeitos mágicos, que lá na frente serviu e serve como contribuinte indispensável para a evolução das ciências farmacêuticas e medicinais; como relata Jacques Bergier no prefácio do livro A História da Magia de Kurt Seligmann “Frequentemente os antigos magos percorreram, antes de nós à sua maneira, os caminhos que a nossa ciência está em vias de redescobrir”[6].
            O descaso e a negação que fazem contra a magia, limita a sua contribuição. Não é somente na esfera religiosa que a magia é repudiada e mal aproveitada para fins de pesquisa, a ciência incorreu no mesmo erro.
Apesar dos imensos investimentos e da criação de laboratórios que empregam dezenas de milhares de investigadores, a indústria farmacêutica está ainda longe de ter explorado a fundo o tesouro das receitas mágicas. Os magos dos povos ditos primitivos levam em certos aspectos séculos de avanço sobre os métodos da Química. Os índios da América do Norte dispõem de pílulas anticoncepcionais verdadeiramente eficazes. Os africanos têm medicamentos abortivos que atuam no segundo e inclusive no terceiro mês de gravidez sem qualquer efeito desagradável para a saúde[7].

            Trata-se, de uma crítica a ciência atual. Essa crítica é ponderável para a aceitação da relação existente entre ambas e a pouca exploração exercida sobre a magia e os possíveis benefícios extraídos dela, pelo simples fato dela anteceder a ciência. Tanto do lado religioso ou científico a magia tem muitas objeções, não é uma tarefa fácil trabalhar este tema, mas, nem por isso deixa de ser prazerosa. O que temos é uma breve história introdutória sobre a magia, que pretende elucidar os leitores iniciantes no tema, com o intuito de proporcionar uma aproximação não preconceituosa tanto do termo quanto das práticas.

Magia e aparatos técnicos
            A magia está envolvida no mundo místico, a sua prática é inerentemente concebível em lugares que aparentemente são inapropriados, porém são embutidos de forças atributivas para o seu desenvolvimento. Em larga escala, dá para atrelar muitas magias, à qualidades e habilidades técnicas, porém, ela não se limita simplesmente a isso. Carlos Sell e Franz Bruseke tratam com peculiaridade esta dicotomia existente entre magia e técnica, pois, o fascínio trazido pela magia, assemelha-se ao da técnica[8].
            Como dito antes, os autores seguiram a tese e o pensamento de Marcel Mauss, para estruturar seus assuntos relacionados a magia e seus desdobramentos. O uso de palavras repetidas, o nome próprio da pessoa envolvida no processo mágico, manipulações de objetos, sangue e vísceras de animais sacrificados e outras técnicas vistas nos rituais mágicos, são técnicas que ajudam a praticar e desenvolver a magia na ótica de Mauss.
Por outro lado, Mauss destaca o caráter eminentemente técnico da magia, que resulta da sua intenção de impor as coisas à própria vontade. Essa técnica mágica consiste em um conjunto de manipulações de objetos, aplicações de fórmulas secretas e outros procedimentos, enfim, um rito que segue uma causalidade magicamente entendida. Não surpreende, então, que a voz do feiticeiro faz ceder a chuva e uma “simpatia” corretamente aplicada faz desaparecer as verrugas. Aceitamos como bastante valiosas as incursões de Mauss sobre o “mana” e sobre o caráter “técnico” e “causal” da Magia[9].

            Entende-se dentro da fala dos dois autores que, a magia não se sustenta somente com seus conceitos e práticas, ela precisa do auxílio da técnica para um melhor desenvolvimento. Dissociar a magia da técnica é uma tentativa sem sucesso, devido a sensibilidade produzida pela técnica nas manipulações de objetos que beneficiam diretamente a magia. Então, é preciso um olhar crítico por detrás da magia, afim de descobrir o aspecto técnico maquiado por ela.

Bíblia e Magia
Raramente, os leitores dos textos bíblicos vão para eles com a mente neutra, muitos se aproximam deles contaminados com diversas interpretações e já fazem um julgamento precipitado do que encontram no interior da narrativa. O ato de falar que existem textos que comprovam a presença da magia, talvez não seja muito agravante, desde que, seu aspecto tenha um caráter negativo. Já, um leitor informado com bases ainda que sejam básicas de hermenêutica, se direciona ao texto com sua mente “pura”, afim de extrair dos mesmos informações diretas do próprio, sem ser contaminado pelas que já existem.
Ao tocar no assunto magia e relacioná-lo com a bíblia, nos remetemos diretamente a textos que tem a magia como algo contrário ao divino; nos lembramos dos magos egípcios Jannes e Mambres diante de Moisés, de Simão Mago e seu duelo com o apóstolo Pedro e do apóstolo Paulo com o mago Bar-Jesus, chamado Elimas. E o que chama a atenção é esta disputa entre o bem e o mal, o diabo e Deus e a magia versus o milagre. Os exemplos citados são tendenciosos à negação da magia, pois, Moisés, Pedro e Paulo com respaldo divino saem vitoriosos dos seus duelos, criando na magia uma imagem adversária.
Deixando de lado esses textos com vertentes tendenciosas, e nos atentando à textos que são poucos explorados, detectamos a presença da magia não como aliada ao mal, mas praticada por importantes personagens bíblicos que fizeram uso dela para a obtenção do bem. Vejamos o exemplo citado por Kurt Seligmann:

O patriarca Jacob realizou a seguinte operação inequivocamente mágica: quando dividiram os rebanhos, Jacob e o sogro, Labão, concordaram que este ficasse com os animais não malhados e aquele com todas as cabras malhadas. <<Então Jacob procurou alguns ramos novos de choupo, amendoeira e plátano e descansou-os de forma a deixer-lhes faixas alternadas escuras e claras. Colocou-os depois nas caleiras dos bebedouros quando os animais vieram beber>>. A seu tempo, os animais copularam e <<as fêmeas conceberam diante das varas e tiveram crias listradas, salpicadas e malhadas>>. Jacob serviu-se desses paus listrados de acordo com o princípio mágico de que o igual produz o igual: ramos listrados produzem listas na pele dos animais. Não foi, por conseguinte, pela intervenção divina que alcançou a sua riqueza; não foi um milagre que originou as malhas no gado do patriarca, mas sim os seus conhecimentos de magia[10].

            Falando objetivamente, o desafio está posto para a busca de uma compreensão abrangente sobre o que a bíblia diz em relação a magia, e a não se atar a relatos tendenciosos. O leitor “impuro” não consegue detectar este outro lado da magia. Muitos ao terem contato com este trecho, romantizam-no atribuindo as conquistas de Jacó como um milagre ou uma benção divina. De início é estranha esta afirmativa de Seligmann, mas aos poucos ela vai se encaixando e mostrando um outro lado da magia. A bíblia na maioria de seus textos referidos a magia ela se mostra como opositora, não obstante, outras passagens como esta citada acima revelam um outro quadro.

A representação da magia para os Hebreus e suas confluências religiosas
            A história do povo Hebreu, se inicia segundo o texto bíblico nos vales férteis dos rios Tigre e Eufrates, este povo não possuía paradeiro territorial e oscilava entre cativeiros e exílios, que por sua vez interferiam diretamente em seu viver religioso. Sabemos que o monoteísmo não é uma prática iniciada pelos hebreus que antes eram politeístas, adotaram essa prática dos egípcios e fizeram dela sua raiz religiosa. Com o monoteísmo em voga as demais religiões passaram a sofrer distanciamento e repulsa. A idolatria que era um ato normal de culto dos babilônios e assírios passou a ser vista como algo impuro, assim como a magia. Principalmente nos cativeiros, os hebreus eram obrigados a abandonar a sua fé e induzidos a prestar culto à outras divindades. Seligmann diz:

A religião mosaica, à semelhança da cristã, opôs-se à magia como força que se intrometia ilicitamente no poder divino. No entanto, uma vez que ela própria é resultante da magia, o seu ritual contém muitos elementos cuja origem mágica mal pode ser negada. O milagre bíblico não difere inteiramente dos prodígios mágicos que figuram na Sagrada Escritura e apenas se distinguem pelo facto de num caso intervirem a vontade e ajuda de Jeová, ao passo que no outro se dá a participação do espírito do mal[11].

            A hipótese que está posta, revela que a origem religiosa hebreia e cristã teve influências mágicas, e para Seligmann é impossível dissociar a magia da religião dos hebreus. Em suma, é a partir de conceito e interligações que a magia vai tomando forma negativa, ela está associada ao mal, quanto o milagre, seu opositor, se ata ao bem. Dentro desta discussão proposta por Seligmann não há diferença entre magia e milagre, a diferença se encontra em quem os provocam.
            O contexto social e religioso dos hebreus está permeado de contatos e atos mágicos; Moisés perante faraó praticou magia, Jacó usou de artifícios mágicos para enriquecer, José praticava hidromancia, esses fatos mostram que a religião hebreia não está desvinculada do que eles mesmo desaprovam.

Jesus: milagreiro ou mago?
            No Antigo Testamento, vimos a presença de homens como Moisés, Elias, Eliseu e outros que praticavam milagres e porque não dizer magias, e o contato com a religião traz esses afluentes para a vida do religioso que busca a cada dia uma nova experiência religiosa. A figura de um milagreiro ou um mago representa a diversidade das expressões religiosas como define Paulo Nogueira; “Diante dessa diversidade, tudo acaba por ser devidamente abordado e classificado por ideologias dualistas que classificam expressões do religioso como forças do bem ou forças do mal, com todos os correlatos que lhe cabem: justiça – injustiça, libertação – opressão, nacionais – estrangeiros, desenvolvidos – atrasados, humanizadores – desumanizadores etc[12]. E dentro deste contexto atrevo-me a acrescentar milagre – magia.
            O campo religioso tem destes dualismos, e ao traçar um pensamento classificatório acerca da figura de Jesus é preciso ter atenção para não tirar o que não pode ser tirado, isto é, nuances mágicos da vida e ministério de Jesus e correlaciona-los milagres.  O que classifica socialmente Jesus como milagreiro é a sua afirmação como divino, isto, claro para os seus adeptos, pois para os seus adversários ele era um mago. Esta taxonomia, é de âmbito totalmente social e de partidarismo religioso.

Justamente por causa da posição da magia enquanto uma religião subversiva, extra-oficial, censurada e, muitas vezes, de classe baixa, empreguei deliberadamente a palavra magia, ao invés de algum eufemismo, em todas as seções deste livro. Elias, Eliseu, Honi e Hanina eram magos assim como Jesus de Nazaré. É fascinante ver teólogos cristãos descreverem Jesus como um milagreiro, ao invés de um mago, e depois tentarem estabelecer uma diferença objetiva entre as duas categorias. O caráter tendencioso desses argumentos aponta para uma necessidade ideológica de proteger a religião e seus milagres da magia e seus efeitos[13].

            A desafiante tarefa deste artigo é justamente seguir esta direção proposta por John Dominic Crossan, de quebrar esta rotulação posta sobre Jesus quanto milagreiro e não um mago, a intenção não é desconstruir a imagem divina de Jesus, mas propor um diálogo fornecido pelas diversidades de expressões religiosas e de fazer enxergar na pessoa de Jesus um milagreiro e praticante de magia. Cuspir no chão, fazer uma lama e por nos olhos de um cego e este depois enxergar não seria uma magia? Transformar água em vinho; um milagre ou uma magia? De pende de quem vê. Para os discípulos e cristãos foi um milagre, mas para os adversários e pagãos foi uma magia. Porém, até mesmo para os discípulos de Jesus isto era uma tarefa difícil de se compreender, segundo a análise de Crossan “Creio, em suma, que o aspecto mágico e milagreiro de Jesus era um fenômeno problemático e controverso não só para os seus inimigos, mas também para os seus amigos”[14].

Práticas e representações da magia no Cristianismo Primitivo
            Segundo a história, Jesus é fundador e líder do que hoje conhecemos como cristianismo, ao iniciar o seu ministério ele chama doze homens e os conclama de apóstolos, homens que largaram seus afazeres dispostos a tornarem-se seus discípulos. Como bem sabemos, o ministério de Jesus foi marcado por ensinamentos e prodígios; como milagres (magia) e exorcismos. Diversos pontos narrativos neotestamentários, relatam Jesus outorgando aos seus discípulos poder para fazer obras semelhantes à dele (Mc 6:7; 16. 17:18).  
            Este aprendizado teórico e prático proposto por Jesus foram bem assimilados pelos seus seguidores, tanto em palavras quanto em obras, vimos isso mais explicitamente na vida de Pedro, Paulo e de alguns discípulos após o Pentecostes. Seções de manifestações do poder divino eram corriqueiras no cristianismo nascente como; a presença da parresia, a cura de enfermos, ressurreição de mortos, expelimento de demônios e outros sinais produzidos pelos discípulos de Jesus com a sua autorização. Esses acontecimentos faziam parte do cotidiano social e religioso daquela época. Uns faziam com a legitimação religiosa e outros não, e é neste ponto que surgem os rivais de Jesus, dos discípulos o do cristianismo por eles implantado e divulgado. O campo religioso sempre foi disputado até os dias de hoje, tanto religiosos quanto políticos viam neste cristianismo uma ameaça para as suas organizações, mesmo que social e religiosamente ilegais como é o caso da magia.
            Na Grécia Antiga, não era somente a filosofia que circundava a sociedade, a magia também era notoriamente uma atividade religiosa e social indispensável. O pensamento filosófico serviu de influência e propulsão da magia, tendo Platão e Aristóteles como filósofos principais. Platão tinha uma ideia sobre o mundo de maneira bem utopicamente poética, e porque não dizer mágica. Há, pois, um entrelaçamento entre a magia e a filosofia na Grécia Antiga. Segundo Seligmann “As antigas crenças mágicas que haviam enriquecido a vida da humanidade foram revestidas pelos filósofos com as belas roupagens da razão. A maioria dos filósofos, todavia, tal com os membros de todas as classes sociais, entregava-se à magia e superstições populares”[15]. O ato de recorrer às práticas mágicas não era somente um caminho da sociedade simples e pobre, homens com conhecimentos e nomes conceituados faziam dela um meio de flerte com suas funções, principalmente os filósofos.   
            Já na Roma Antiga a magia tinha uma oscilação, alguns aceitavam e outros não, e entre os imperadores muitos se opuseram a magia, tendo-a como religião não oficial e perigosa ao império, esta posição deve-se, talvez ao seu relacionamento com a filosofia Grega a qual não eram bem aceita pelos imperadores romanos. Por outro lado, outros imperadores se aliaram a magia e se fizeram participantes dela como: Nero, Augusto, Marco Aurélio, dentre outros.
            No contexto romano a magia está entre aceitações e repúdios, tanto na sociedade comum quanto no palácio, ela era tida como um meio de obtenção de sucesso para alguns e para outros ela era vista como uma prática do mal e enganadora, onde muitos magos se autopromoviam e criavam seus grupos e seitas que aos poucos iam crescendo e se tornavam uma ameaça à Roma e ao seu império.
            O cristianismo nascente está no meio de um eixo religioso, político e cultural conhecido como Roma e Grécia.  Ao se desenvolver neste meio, o cristianismo está num entrave religioso onde a prática da magia é presente, ainda que ilegal ela exerce uma influência considerável no imaginário e na vida da sociedade cristã e pagã tanto romana quanto grega. Vejamos o que Seligmann diz a respeito:
 Ainda pouco tempo antes, Mecenas havia estigmatizado a magia como uma instigadora da revolta. Estas opiniões contraditórias, proferidas no século I da era cristã, atestam o facto, de que a magia exercia ainda nessa altura uma acentuada influência em todos os espíritos: ela era motivo de risos e de medo, de desprezo e admiração. Toda a gente estava interessada na magia privada; ninguém considerava oportuno criticar o culto oficial, apesar do facto de a religião codificada do estado não passar de magia legalizada[16].
            O autor revela o que representava a magia no século I, e acrescenta:
A magia privada tornara-se um negócio em Roma; em troca de dinheiro, os Caldeus distribuíam o bem e o mal. O seu saber abastardava-se continuamente. Todavia, a magia exercia ainda uma influência poderosa e os gnósticos e neoplatônicos que aceitavam as suas ideias e cerimônias mágicas congregavam crentes por toda parte. Os neoplatônicos, alarmados pela expansão do cristianismo, arvoravam-se nos novos defensores da magia pagã. Uma parte integrante do seu culto era a teurgia, a chamada à terra dos demônios bons[17].  

            Recorrendo a Seligmann, temos uma noção prévia de como se encontrava de um modo geral o ambiente dos territórios onde se iniciara o cristianismo. A magia aceita ou não estava presente, legalizada ou ilegalizada era praticada; por um sacerdote ou por um mago. Entretanto, não se pode negar a influência e interferência da magia no cristianismo primitivo e o que ela representava para seus adeptos e opositores. Talvez, seja por isso que temos poucos textos neotestamentários de classificação canônica que se enveredam neste assunto, mas nem por isso ele se torna inútil. As ferramentas fornecidas pelas Ciências da Religião, nos permitem ir além dos textos canônicos e adentrar na literatura cristã primitiva, não levando em consideração os seus cognomes apócrifos.   

Magia e literaturas apócrifas
            Os escritos considerados canônicos têm uma aceitabilidade incontavelmente maior dos que são chamados apócrifos, talvez esse fato se deva ao difícil acesso a estes, ou de repente, esteja ligado ao processo de iniciação na fé cristã, que logo conceituam os livros que não entraram no cânon bíblico como heréticos. E infelizmente esta postura, nos privam de obtermos conhecimentos mais amplos que não são fornecidos pelos livros canônicos. Ao pesquisador religioso não cabe fazer distinção preconceituosa sobre tais livros, e sim utilizá-los para a elaboração de pesquisas que visam promover conhecimentos, ainda que estranhos, porém, uteis.
            Para Paulo Nogueira,
De fato, os textos que hoje chamamos de canônicos já passaram por processos de tradução por meio de textos que convencionamos chamar de apócrifos. Ou seja, os gêneros (evangelhos, atas e apocalipses) sofreram interferências sincréticas de gêneros helenísticos (viagem aos infernos, combate entre magos) e de temas folclóricos (os milagres deixam a discrição da tradição judaica para se tornarem mais fantásticos e exibicionistas). Um estudioso preocupado somente com as tradições originárias, mais antigas, pode se sentir pouco interessado no estudo da literatura apócrifa. Mas, se para um cientista da religião interessado em aumento de informação (diga-se informação histórica da cultura!), em inserção de enredos, temas, personagens, em narrativas que traduzem os textos bíblicos do passado para as novas gerações (no caso do Novo Testamento), os apócrifos se tornarão fontes imprescindíveis para o estudo do próprio Novo Testamento[18].      
  
            Torna-se visível nesta exposição a importância do manuseio de literaturas apócrifas para uma compreensão e interpretação mais concisa e plausível de assuntos e temáticas do Novo Testamento. Quero me prender ao “combate entre magos” citados por Nogueira, que tem uma abrangência e consistência bem maior nestas narrativas apócrifas, que irão encorpar esta pesquisa. O que temos sobre magia nos textos canônicos é bem efêmero e inconsistente. Relatos encontrados em textos canônicos tem algumas exposições inconclusas, como os relacionados à magia.
            O livro dos Atos dos Apóstolos conta a história inicial do surgimento da igreja, dos apóstolos e de alguns reveses; no capítulo 8, Lucas insere na sua narrativa uma perícope[19] que envolve assuntos relacionados à magia, porém, o livro canônico não se aprofunda na história e por isso não relata como se deu o seu desfecho. É neste ponto que entram em uso as literaturas apócrifas, com a finalidade de propor uma conclusão mais detalhada sobre o assunto. O conteúdo da perícope proposta por Lucas, relata um duelo entre o apóstolo Pedro e o mago Simão, uma disputa de magias.
            Outra literatura que contém os mesmos personagens são as Pseudo-Clementinas, nelas a disputa entre Pedro e Simão mago se dá no âmbito teórico acerca de Deus e de seus tratados. Pedro defendia a ideia da Unidade de Deus, por outro lado, até com uso das Escrituras, Simão afirmava a existência de outros deuses que segundo o seu discurso, o próprio Deus assim os chamavam. O segundo capítulo da homilia XVII, menciona a acusação que Simão faz a respeito de Pedro chamando-o de servo da maldade, e de ter grande poder na magia aponto de encantar as almas dos homens, muito pior do que a idolatria.
            O texto mostra o apreço da multidão por Pedro após seu discurso, o que despertou em Simão um sentimento de vergonha perante o povo. Segundo o autor da fonte, Simão discursava com o intuito de agradar o povo, porém Pedro falava a verdade, e por isso foi ovacionado pelos seus ouvintes. Nota-se, a ênfase que a fonte dá não se restringe somente a magia, há uma atenção direcionada aos discursos sobre as Escrituras que ambos proporcionaram. Esta abordagem que o texto faz sobre a acusação de Simão sobre Pedro como mago e enganador é vista também nos Atos de Pedro, muito embora seja em outro enredo.
            Os Atos de Pedro é um texto apócrifo que tem os apóstolos Pedro e Paulo como personagens principais, e a sua proposta é de revelar as acusações que Simão fizera sobre Pedro, afirmando que ele era um mago e enganador. A diferença e a motivação das magias praticadas por ambos são explícitas nesta fonte. As magias de Simão segundo os Atos de Pedro são direcionadas para o exibicionismo e sem utilidades; fazendo a serpente de bronze e estátuas de pedra se moverem, quando por outro lado, Pedro curava os enfermos, expulsava demônios e ressuscitava mortos, isto é, praticava a magia com fins mais úteis.
            O autor do relato deixa claro que as magias de Simão estavam apoiadas com auxílios de demônios, ainda que que ele fazia afirmações que era o filho de Deus descido dos céus. As disputas de magia entre Pedro e Simão ocasionaram na intervenção do imperador Nero. E em comparação com a narrativa canônica de Atos dos Apóstolos que não cita a presença de Paulo ao lado de Pedro na cena, o autor do apócrifo menciona a presença do apóstolo como parceiro de Pedro perante Nero e Simão.
            Os martírios de Pedro e Paulo deram-se devido a disputa final com Simão Mago, e de acordo com a literatura apócrifa, foi neste episódio que Nero acusou os apóstolos como responsáveis da queda e morte do Mago. A fonte conta o frustrante voo de Simão, que fora interrompido com a oração de Pedro, que mereceu até homenagens na igreja de Santa Francisca Romana, e justamente neste local era comemorado o acontecimento do voo e da queda do Mago, que tinham como memória, duas pedras de basalto como o sinal dos joelhos de Pedro o autor da oração que interrompeu a magia do Mago Simão.
            Estas breves exposições de literaturas apócrifas trazem importantes significações sobre a magia e o que ela representava para os primeiros cristãos. Não há como tecer conteúdos expressivos sobre uma temática como esta sem o auxílio desses textos, existem elementos culturais intrigantes e indispensáveis para um diálogo construtivo na esfera científica/religiosa. Por isso, falar sobre magia no aspecto histórico/religioso sem manter uma interlocução narrativa com essas literaturas é um erro que não pode ser praticado por um estudioso e cientista da religião.

Conclusão
            A magia não é uma temática exclusiva do Novo Testamento, existem registros de atos e práticas mágicas também no Antigo, e este foi um dos objetivos traçados por esta pesquisa, de primeiro explicitar conceitos e conteúdos históricos acerca da magia e logo depois demostrar a sua existência antes mesmo do conceito “religião” e “ciência”. Me atentei cuidadosamente para o aspecto tecnicista da magia, pois direcionei os olhares não somente as influências espirituais, contudo, quis traçar uma visão crítica e não tendenciosa acerca da magia.
            Procurei não ocultar o lado negativo e positivo da magia, não obstante, é visto exemplos de personagens do Antigo e do Novo Testamento que usufruíam deste recurso, inclusive Jesus e seus seguidores. É forte fazer esta afirmativa, porém, é necessário. Não achei justo fazer rodeios e correr da responsabilidade, poderia me utilizar de outros termos como: Curandeiro, taumaturgo e milagreiro, mas resolvi para o bem da pesquisa explicitar brevemente o lado mago do filho de Deus.
            A magia permeou todo o contexto do cristianismo primitivo, não só na esfera religiosa, como também na política e na economia como foi abordado pelas literaturas apócrifas que carregam em suas narrativas um conteúdo bem mais abrangente do que as canônicas. Portanto, o objetivo central está em promover uma aproximação não preconceituosa sobre a magia afim de demostrar as suas representações no Cristianismo Primitivo.

Bibliografia

BERGER, Klaus. Psicologia Histórica do Novo Testamento. São Paulo. Paulus, 2011.
CROSSAN, John Dominic. O Jesus Histórico: A vida de um Camponês Judeu no Mediterrâneo. Rio de Janeiro. Imago Ed, 1994.
MARGUERAT, Daniel. A primeira História do Cristianismo: Os Atos dos Apóstolos. São Paulo. Edições Loyola, 2003.
NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza, (organizador). Linguagens da Religião: desafios, métodos e conceitos centrais. São Paulo. Paulinas, 2012.
SELIGMANN, Kurt. História da Magia: Magia, sobrenatural e religião. Lisboa. Edições 70, 1974.
ZABATIERO,


[1] Monografia apresentada à disciplina Ciências da Religião, II semestre de 2015, com vista a aprovação na disciplina.
[2] Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Bacharel em Teologia pela Faculdade Unida – Vitória – ES. Licenciado em História pela Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) – RJ.
[3] SELIGMANN, Kurt. História da Magia: Magia, sobrenatural e religião. Lisboa, Edições 70, 1974. p 9.
[4] SELL, Carlos Eduardo. BRUSEKE, Franz Josef. Mística e Sociedade. São Paulo. Paulinas, 2006. p 170.
[5] SELL. Carlos. BRUSEKE, Franz. 2006. p 173.

[6] SELIGMANN, Kurt. História da Magia: Magia, sobrenatural e religião. Edições 70. Lisboa 1974. p 10.
[7] SELIGMANN, Kurt. 1974, p 11.

[8] SELL, Carlos Eduardo. BRUSEKE, Franz Josef. Mística e Sociedade. São Paulo. Paulinas, 2006. p 169.
[9] SELL. Carlos. BRUSEKE, Franz. 2006. p 177.
[10] SELIGMANN, Kurt. História da Magia: Magia, sobrenatural e religião. Edições 70. Lisboa 1974. p 39.

[11] SELIGMANN, Kurt. 1974, p 38.
[12] NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza, (org). Linguagens da Religião: desafios, métodos e conceitos centrais. São Paulo. Paulinas, 2012. p 15.
[13] CROSSAN, John Dominic. O Jesus Histórico. A vida de um Camponês Judeu no Mediterrâneo. Rio de Janeiro. Imago, 1994. p 342.
[14] CROSSAN. 1994. p 348.
[15] SELIGMANN, Kurt. 1974, p 67.
[16] SELIGMANN, Kurt. 1974, p 98.
[17] SELIGMANN, Kurt. 1974, p 99.

[18] NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza, (org). Linguagens da Religião: desafios, métodos e conceitos centrais. São Paulo. Paulinas, 2012. p 26.
[19] Júlio Zabatiero conceitua este termo dentro de uma linguagem técnica, que em seu sentido literal significa “cortado ao redor”, usadas para a organização dos documentários exegéticos, preparação de sermões, dissertações, teses etc. Uma perícope é, assim, um pequeno trecho bíblico usado para o estudo e a comunicação da Bíblia. ZABATIERO, Júlio. Manual de Exegese. São Paulo. Hagnos, 2007, p 33.     

Resenha. Psicologia Histórica do Novo Testamento. BERGER, Klaus.

RESENHA

BERGER, Klaus. Psicologia Histórica do Novo Testamento. Tradução: Monika Ottermann. São Paulo: Paulus, 2011. 388 p. 

Albertino da Silva Lima*

O teólogo Klaus Berger, nascido em 1940, em Hildeshein, Alemanha, estudou Filosofia, Teologia e Orientalistica em Munique, Berlim e Hamburgo. Desde 1974, é professor de Teologia do Novo Testamento na Universidade de Heidelberg. As suas áreas de pesquisas são: história da religião e literatura extracanônica, novos métodos exegéticos e história das formas e concentra-se também em hermenêutica. Seus livros estão traduzidos em de dez idiomas.
Fazer leituras sobre os livros de Berger é uma tarefa desafiadora, pois alguns contém uma linguagem acadêmica bem sofisticada e requer do leitor uma disciplina para compreender os objetivos de seus escritos. Este robusto livro de 388 páginas, traz uma linguagem mais acessível para os seus leitores, ele põe à mesa assuntos que se passam como desapercebidos no Cristianismo Primitivo, e são expostos na narrativa neotestamentária. Ao explorar os aspectos histórico-psicológicos do Novo Testamento ele não se utiliza de ferramentas da ciência moderna e sim dos seus métodos exegéticos de pesquisa.
O que chama atenção como de costume em outros livros é a enorme consulta bibliográfica, Berger dialoga suas intenções com obras de autores bem conceituados o que encorpa a sua pesquisa. As notas de rodapé são bem ricas e proporcionam um esclarecimento aos seus leitores e também os direcionam à outras fontes. O autor versa entre pensamentos acadêmicos e eclesiásticos, a porcentagem dos métodos exegéticos é bem alta, ele extrai comportamentos psicológicos dos próprios textos, o que confunde e contraria a Psicologia moderna. O método histórico-crítico é vigente em Berger, que faz, do seu estilo narrativo bem técnico.    
Há uma dedicação na introdução proposta pelo o autor, e já nas primeiras linhas ele não esconde sua intenção, “no entanto, nesse sentido, entende-se a psicologia bíblica como histórica e, dessa forma, como severamente distinta da psicologia moderna ou contemporânea” (p, 17). A psicologia histórica é tida como contribuinte para uma maneira de ver o Novo Testamento. A introdução faz uma ligação direta aos temas que ele aborda no desenvolvimento do livro, ao ter contato com um capítulo sobre um referido tema o leitor não o estranha, pois carrega em sua memória uma leve lembrança produzida no início de sua leitura.
No capítulo três Identidade e Pessoa, onde se inicia o conteúdo geral do livro, Berger capta a problemática da existência humana, não em ser uma pessoa em si, mas qual a identidade que essa pessoa possui ou possuirá. O termo que está em evidência no capítulo é o self, que acaba criando um conflito interior que gira em torno do “Eu”. É um trabalho da psicologia histórica fazer entender a nova identidade cristã que uma pessoa adquire no novo nascimento operado pelo batismo. Deixar a pessoa de Cristo viver em si, ou se vestir dele a ponto de a identidade a ser desenvolvida não seja puramente a sua, mas à dele.
O capítulo quatro Possessão por Demônios, o autor analisa os evangelhos e as cartas como textos que circulam episódios de manifestações e exorcismos de espíritos imundos e demônios. E defende a correlação de enfermidades com esses espíritos. A possessão na perspectiva de Berger tem seu início no psicológico e confronta o possuído, pelo lado negativo do demoníaco. Os evangelhos relatam sobre os demônios como “pessoas” detentoras de nomes e funções, que se rendem à um poder superior aos seus “Jesus vai ao encontro dos demônios como seu senhor e amo” (p 85).
Berger dá uma polemizada ao entrelaçar a demonologia a imagem de Deus, onde pressupõe existir elementos do demoníaco em Deus. Esta hipótese é conflitante, pois mexe com interpretações históricas e antigas que demostram o contrário, mas mesmo assim Berger é categórico “Ao contrário, os anjos representam a glória de Deus como em reflexos mil vezes fragmentados e os demônios, seu lado inescrutável e ameaçador ou cruel” (p 94).
Para a elaboração do quinto capítulo Experiência e Corpo, Berger Dialoga com R. Bultmann e retorna ao conceito do self, e ao tomar o apóstolo Paulo como exemplo ele expõe suas afirmações baseadas nas experiências corporais em seu contato com o divino e seus conceitos morais. Uma argumentação que ele faz sobre o corpo é que ele sempre está na posse de outros, embora tenhamos um corpo, sejamos uma pessoa e possuímos uma identidade. “O corpo está total e inteiramente sob a experiência dos opostos Deus versus pecado e vida versus morte” (p 106).
A constante luta da consciência psicológica em não pecar contra Deus desencadeia, na visão de Berger um dualismo “pecado e corpo”, que tem como agente destrutivo do corpo e do relacionamento com Deus, a sexualidade sem freios. O texto de 1Cor 6,18, segundo o autor, refere-se diretamente aos prazeres luxuriosos da carne. “Por meio do pecado da luxúria, o corpo é atingido como instância, porque ele é a propriedade de Deus” (p 110).  Entendo que o autor procura dispor aos leitores a escolha do self responsável pelo seu modo de vida, isto é, a pessoa que habitará (Jesus ou Satanás) o seu corpo designará o seu fim.
O capítulo seis Interior e Exterior, abarca um assunto que é bem corriqueiro no contexto do cristianismo primitivo desde os evangelhos até a sua exposição mais abrangente por Paulo e suas atas. Berger destaca a desvalorização do exterior da corporeidade humana através de práticas que comprometem a moral e a ética do ser humano. O prestígio dado ao interior é notório no decorrer dos textos neotestamentários, principalmente na ênfase dada por Paulo (Rm 7,22; 2Cor 4,16; Ef 3,16). O lado interno do ser humano tem uma valoração superior ao externo; enquanto um é fraco o outro é forte, quando um tem um aspecto corruptivo o outro por sua vez tem a função renovadora.
O capítulo sete, fala sobre a Percepção, Berger procura estabelecer os tópicos que são exteriores aos seres humanos, isto é, o que vem de fora, e de forma causal interferem nos comportamentos destes. O autor prefere sistematizar as abordagens trazidas pelo cristianismo primitivo de modo que sejam bem explícitas as suas visões e ponderações. São temáticas que mesclam entre assuntos espirituais, espirituais/humanos e humanos. Os gêneros literários contidos no Novo Testamento e nas literaturas apócrifas trazem, na ótica de Berger, em suas estruturas assuntos de psicologia histórica que polemizam e ao mesmo tempo revelam o ambiente imaginário e real dos primeiros cristãos.
Na minha análise, o capítulo sete fala de assuntos extra-humanos, porém, o oitavo Afetos, abrange as questões intra-humanas. O personagem escolhido por Berger para desencadear os enigmas deste tema, é o apóstolo Paulo e seus escritos, pois, a literatura paulina tem uma construção linguística que palmeia os comportamentos humanos pelos seus sentimentos. Para Berger, o apóstolo deixa a desejar em alguns pontos acerca de suas teses sobre a ações da alma “A meu ver, a observada falta de sentimentos intermediários em Paulo pode encontrar uma explicação quando se parte da temática paulina básica de vida e morte” (p 206). Os demais sentimentos surgem a partir deste imbróglio. Ao tocar em assuntos de aportes relacionados ao lado afetivo da humanidade tendo como ponto instrumental a psicologia histórica Berger, não foge das realidades do viver diário como: cobiça, temor, medo, amor, alegria, pavor, dor, reconhecimento e outras facetas produzidas pela alma, afim de elucidar os seus leitores de uma realidade vivida pelos primeiros cristãos.
Ao falar sobre Sofrimento no capítulo nove, o autor faz uma abordagem bem psicológica do que histórica a respeito do tema, apesar do sofrimento está atrelado mais as questões físicas e visíveis. E ao destacar este sentimento ele o correlaciona a Cristo, pois, o cerne das mensagens de Cristo e dos apóstolos eram de seguir os passos do seu Senhor, mesmo no sofrimento. Berger, deixa evidente que as literaturas neotestamentárias, trazem em seu corpo narrativo a ideia de um sofrimento temporário e compensatório, vimos isso nos testemunhos dos mártires.
O capítulo dez Religião, na minha ótica é o mais intrigante por tratar assuntos direcionados aos aspectos transcendentes dela, não se vê o autor preocupado com sua historicidade, porém, há uma atenção voltada para suas características místicas que providenciam uma experiência religiosa através de seus elementos de ligação com a interface divina da religião. A fé, o temor, a oração e experiências carismáticas adquiridas pelo contato com o Espírito Santo são na visão de Berger, peças fundamentais na construção da religiosidade no cristianismo primitivo.
Vejo o capítulo onze Atuação, como o fechamento conclusivo sobre a proposta que Berger estabeleceu em seu livro. Ao debater assuntos gerais acerca da psicologia histórica do Novo Testamento ele percebe que todos esses agrupamentos expostos nos capítulos anteriores tem uma intenção final, mais explicitada nos evangelhos que trabalham os ensinamentos para os futuros seguidores de Jesus Cristo. Não se trata de aparições de novos procedimentos de como se viver apenas, mas de como coloca-los em prática. É necessário segundo Berger, de uma consciência sóbria sobre os escritos tendenciosos e muitas vezes contrárias à vontade humana. O modelo foi dado e deve ser seguido.
Análise crítica
O tema escolhido por Klaus Berger é bem aguçador, e se torna mais ao não se apropriar de métodos investigativos da psicologia moderna. A maneira de extrair do próprio Novo Testamento informações através de experiências contadas nas narrativas, deixa o seu texto bem interessante, pois, uma leitura leiga sobre as literaturas neotestamentárias não se consegue perceber essas particularidades encontradas por ele. Captar e estudar pontos psicológicos sem o auxílio da Psicologia como ciência e obter tais resultados como os por ele obtidos, é uma tarefa honrosa.   
As conclusões que Berger chega sobre a psicologia histórica vem dos próprios textos, os gêneros literários do Novo Testamento trazem para ele uma vasta elucidação de fatos que expressam aspectos da vida humana. O ser humano como pessoa é visto por Berger, como detentor de uma identidade que por ora pode não ser a dele próprio, mas a de alguém que domina o seu “Eu”, ou, que ele deseja “vestir-se”. Jesus Cristo é o personagem principal que exerce influência nos primeiros cristãos e se prolonga até os seus escritos. Portanto, o autor faz uma análise sobre as experiências que foram adquiridas com o próprio Cristo e com os conteúdos dos escritos sobre ele.
Berger mostra que é possível ter contato com assuntos implícitos nas literaturas neotestamentárias somente com a atenção voltada para elas. O método exegético e histórico-crítico é visível nas exposições feitas por ele. As capitulações do livro são enriquecidas por subtópicos que posicionam um esclarecimento mais específico do que ele propõe relatar. Percebi, que uma de suas intenções era mostrar que o psicológico sofre interferências extra e intra-humanas. E as expressões que se notam nos comportamentos são a priori, vistas no transbordar do interior para o exterior, onde há uma desvantagem deste último, segundo a hermenêutica de Berger.
O livro além de ter um teor acadêmico bem forte ele traz consigo um diálogo com a religião prática, a fim de demonstrar características desenvolvidas por um religioso em suas buscas por experiências transcendentes. Portanto, concluo que o livro se centraliza na pressuposição de análises feitas sobre o ser humano e suas ações psico-históricas por meio de textos que sofreram o uso abusivo e qualitativo da exegese.





* Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Bacharel em Teologia pela Faculdade Unida – Vitória – ES. Licenciado em História pela Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) – RJ. 

Caminhos do protestantismo: Uma abordagem histórica sobre sua inserção no território brasileiro

Caminhos do protestantismo: Uma abordagem histórica sobre sua inserção no território brasileiro[1]
                                     
Albertino da Silva Lima[2]


Resumo


         Fazer uma exposição de toda a trajetória do protestantismo no Brasil necessita-se de muitas páginas para um trabalho mais apurado. Por isso, a pesquisa se atentou na parte introdutória, e mesmo limitando-se a introdução, percebe-se a riqueza histórica contida nela. Não foi fácil a inserção do protestantismo em solo brasileiro devido a força política e religiosa sustentada pela Igreja Católica desde a sua colonização. Bastian faz uma iniciação sobre o protestantismo na América Latina e traz um apanhado de sua penetração no Brasil, porém, Antônio Mendonça e Prócoro Filho centram-se na história da inserção desta vertente cristã no Brasil e neste diálogo vimos um país bem diversificado em seu aspecto religioso, e é justamente este caminho que esta pesquisa percorrerá.


Primeiros passos do protestantismo em solo latino-americano.

Este estudo sobre o processo de iniciação do protestantismo brasileiro é muito instigante e para fomentar um entendimento sólido sobre o assunto, utilizarei como base introdutória obra de Jean-Pierre Bastian intitulada de Historia del Protestantismo en América Latina, que dentro de sua estrutura histórica proporá uma elucidação do protestantismo em solo brasileiro.

Bastian inicia seus escritos fazendo um recorte temporal entre os anos de 1808 à 1959, neste recorte antes de adentrar o caminho religioso ele perpassa pela política, as revoluções francesa e americana e seus desdobramentos conseqüentes na América Latina. Os fatos nos mostram que é uma tarefa difícil dissociar a religião da história, uma se entrelaça na outra ainda que inconsciente, e devido a esse entrelace nas três primeiras décadas do século XIX houve um colapso revolucionário na América Latina, pois, as repúblicas que iam surgindo tinham em sua estrutura os ideais revolucionários. É explicitado pelo autor que há um interesse de manutenção entre religião e estado, isto é, o catolicismo como a religião ligada ao estado republicano.

As intenções do catolicismo e das repúblicas independentes são opostas, onde esta última tem um caráter ambíguo e não centralizado somente na política. As disputas colocaram em voga a possibilidade de um rompimento com a atual estrutura política e social e com isso deram margem ao surgimento de uma soberania popular[3]. O povo por sua vez se manifestava e buscava o que se passava na política e na economia do seu continente. Espanha e Portugal estavam perdendo seu monopólio e o objetivo intencional da nova ordem de cunho republicano estava sendo alcançado, que era permitir a abertura da economia não restringindo somente a duas nações, mas possibilitando uma comercialização internacional. Bastian mostra que o fantasma da escravidão colonialista se fazia presente e se posicionava como um freio frente à nova proposta de abertura econômica.

Logo após este ensaio histórico sobre o contexto estrutural econômico e político europeu, o autor vai entrar nas intenções e intervenções religiosas, mas precisamente iniciada pelo catolicismo. A Igreja Católica com seu monopólio religioso/político estava sobre maneira presente na Europa e o seu ideal era fundamental para trazer certo equilíbrio, pois além de possuir força ela também era detentora de uma enorme influência.

O interesse e o esforço pela liberdade se esbarravam na hegemonia da Igreja Católica, que devido a sua estrutura era a única instituição garantidora da nacionalidade. Este revés deu outro caminho aos novos estados, deslocando seus olhares revolucionários da França e dos Estados Unidos e se fixaram em Cadiz. A Europa começa a perder a sua referência dando espaço a um exemplo que vem de dentro; da América Latina, gerando um afastamento do centro dominador externando com isso as fuerzas centrífugas[4].

O texto desta pesquisa que introduz a inserção protestante na América Latina mostra o descontentamento com o monopólio Católico e deu início ao pensamento reformador que tinha um olhar crítico dentro do catolicismo, e esta criticidade se deu com as atitudes das sociedades liberais que idealizavam uma modernidade Cristã, uma reforma religiosa com ideais políticos e econômicos que teria sua gênese a partir de dentro. É explicito pelo autor que a intenção do clero crioulo[5] era de aproximação com as lojas maçônicas com a finalidade de criar um consenso entre o catolicismo e a modernidade, não abrindo mão de sua prática dominadora.

Percebo que Bastian se preocupa com o contexto histórico dentro de seu recorte temporal para tornar claro aos seus leitores como se encontrava o quadro político/religioso europeu e latino-americano, para então entrar na temática dos protestantes na América Latina. Preocupação louvável, pois, como explicar o advento de uma nova religião em um solo onde o catolicismo predominava?  O que propiciou a entrada do protestantismo? Foram as revoluções, as crises ou o grito do povo[6]? Esta preocupação deixa o seu texto na minha percepção mais interessante no quesito histórico/teológico, e isto permite que seus leitores tenham firmeza na temática onde estão entrando.  

            Os adeptos do protestantismo eram tidos como minorias frente à hegemonia católica, embora em pouco número lutassem pelos seus objetivos principais que eram a liberdade de consciência e de culto. Porém, para que isso acontecesse eles se aliaram ao liberalismo radical.

Esta posición específica de las minorías protestantes, como asociaciones disidentes que combatían a la iglesia católica en el campo religioso y defendían los princípios liberales que les habían dado acceso a este mismo campo religioso, hasta entonces monopolizado por la iglesia católica, explica también su constante alianza con las demás asociaciones liberales radicales anticatólicas como las logias masónicas, los círculos espiritistas y las sociedades mutualistas, por lo menos sus fracciones anticonciliadoras[7].     

            O que se pode tirar deste trecho é o que na verdade está se passando no início do protestantismo            , isto é, a força católica era bem maior e o protestantismo em minoria está em busca de estruturação e viu esta possível estruturação ao se aliarem aos radicais liberais, aos maçons e as correntes espíritas. Bastian mostra que os protestantes não teriam como subsistir às dominações católicas sem essas alianças, que mais tarde a Igreja Católica irá usar para atacar com fortes acusações o conteúdo desta nova corrente cristã. É embasado nesta leitura que o autor defende a tese de que as sociedades protestantes na América Latina foram sociedades de idéias[8] que trouxeram novas perspectivas e visões acerca do seu modus vivend.
           
Bastian deixa claro que sua pesquisa está endereçada a mostrar como se deu a relação entre o ato imigratório até a conquista pela liberdade de culto. Para palmear esta área ele se prende à segunda metade de o século XIX décadas que marcaram o advento das sociedades protestantes em países latino-americanos.

                                                                                        
O lado histórico e geográfico do protestantismo brasileiro



            A cristianização do mundo proposta pelo protestantismo estava expandindo em larga escala, ele não ficou preso na Europa, ganhou novos caminhos. A América Latina como observamos no tópico anterior foi um terreno fértil e ao mesmo tempo um campo minado, devido a hegemonia desenvolvida pelo catolicismo. A colonização brasileira foi feita por Portugal, cuja origem religiosa é católica. Foram aproximadamente quatro séculos de poderio político/religioso exercido pelos católicos, que interferiu veementemente na formação estrutural do Brasil. Esse longo período da Igreja Católica no poder, serviu como grande empecilho para a penetração do protestantismo.

            Para uma maior compreensão sobre o tema, será utilizada para a pesquisa a obra de Antonio Gouvêa Mendonça que retrata bem este processo desenvolvido pelos protestantes. Em seu livro “O Celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil”, Mendonça utiliza métodos e meios históricos na intenção de informar o contexto do Brasil neste período. Enquanto no século XVI a Europa estava vivendo uma explosão reformista, o Brasil estava dando os seus primeiros passos em busca de uma estrutura. O cristianismo reformado procurou espaço em terras brasileiras mesmo com as objeções católicas à tona.

            A França e a Holanda foram os países pioneiros na tentativa de implantação do protestantismo no Brasil, isso se deu logo após a colonização portuguesa em 1532, com a chegada da expedição de Villegaignon em 1555, que sobre, o amparo de Coligny, pretendia fundar a França Antártica e construir um refúgio onde os huguenotes pudessem praticar livremente o culto reformado.[9] O Brasil do século XVIII foi permeado por questões políticas e religiosas, este período foi conhecido como Brasil Colônia, a fim de conservar as origens do catolicismo na sociedade brasileira.

Em 1720, uma lei proibiu que qualquer pessoa entrasse no Brasil a não ser a serviço da coroa ou da Igreja. Estrangeiros foram proibidos de visitar a Colônia. Em 1800, o Barão von Humboldt foi impedido de entrar na Colônia, pois o governo português informou ao seu representante no Pará que Humboldt podia influenciar o povo com “novas idéias e falsos princípios”. Isso naturalmente, porque o barão procedia de país protestante. Pode-se dizer que até a vinda da Família Real não houve mais protestante no Brasil. Com a profunda modificação política introduzida pela presença de D. João VI, principalmente por causa da dependência portuguesa em relação à Inglaterra, expressa no ato de abertura dos portos “às nações amigas”, é que protestantes anglo-saxões começaram a chegar e se estabelecer no Brasil, com relativa liberdade para as suas práticas religiosas.[10]

A presença protestante não era bem vinda no território brasileiro, pois os católicos os viam como ameaça à sua hegemonia. E quando gozava de liberdade, esta era limitada. Contudo, aos poucos o protestantismo foi ganhando terreno e expandindo suas doutrinas e formas de culto. Isso se dá no período conhecido como Brasil Império, onde se faziam diversos debates sobre a liberdade e convivência religiosa. Esta busca por liberdade religiosa deu direito para a venda da Bíblia e consequentemente a sua difusão foi feita por sociedades bíblicas estrangeiras bem antes da chegada e estabelecimento das missões protestantes, constituiu-se num fator ponderável da estratégia protestante de penetração.[11]

            A dicotomia política/religião é também um dos assuntos centrais do texto produzido por Bastian, ele enxerga o jogo político no processo de alfabetização quando as elites latino-americanas se juntam com os responsáveis das sociedades bíblicas com o intuito de alfabetizar, cristianizar e conscientizar a população, e por fim encorpar as minorias protestantes. A Bíblia teve sua importância neste período, pois a intenção de sua difusão era permitir que o povo tivesse um esclarecimento tanto político como também social e nem tanto religioso.

 El deseo de difundir la Bíblia por parte de las nuevas elites independendistas y la fracción liberal del clero, era una búsqueda a fin de completar las reformas política y económica  con una orientación de las ideas y de las creencias y que permitiera combatir el catolicismo colonial e imponer un catolicismo “ilustrado”, como “cemento” de las nacionalidades emergentes.[12]

            Esta citação clarifica a importância dada por Bastian à Bíblia como meio de proporcionar uma conscientização nas minorias, e ele para isso se utiliza dos termos: “ilustrado” e “cemento”, isto é, instrução/esclarecimento e firmeza. Não a interpretando em seu sentido poético e espiritual somente, mas com vieses políticos, econômicos e sociais. Pois, doravante desencadeou tratados comerciais com paises protestantes e acarretou na difusão do protestantismo na América Latina, que devido o tratado anglo-português de 1810 abriu-se uma concessão para o protestantismo dar seus primeiros passos em solo latino-americano, Rio de Janeiro - Brasil[13].
           
Embora Bastian cite outros países latino-americanos, ele delimita sua pesquisa no Brasil, México, Argentina e Uruguai como primeiros países que receberam os imigrantes protestantes e católicos da Europa procurando conciliar a sua política de imigração, mais precisamente México e Brasil, pois, as políticas de imigração da Argentina eram parecidas com a do Uruguai. Para não deixar sua pesquisa flutuante, percebo que o autor resolve a questão imigratória e logo em seguida se envolve com os conflitos sociais para trazer em tese os assuntos pertinentes à tolerância religiosa e liberdade de culto, que em cada país se diferenciava de acordo com suas instituições.   

            Não é difícil de perceber a influência do protestantismo norte-americano no Brasil, com seu comportamento voltado não somente para o aspecto religioso, mas para a ética e a moral que para eles era tão importante quanto a o caráter espiritual da religião. Ética tal que para Bastian é chamada de “capas sociales”, servia como causadora de lentidão para o capitalismo em expansão. Antônio Gouvêa e Prócoro Velasques seguem a mesma linha de Bastian ao se pronunciarem a cerca deste envolvimento norte-americano no protestantismo brasileiro, quando afirmam que “o protestantismo brasileiro segue sendo uma projeção do protestantismo norte-americano. Direta ou indiretamente, as igrejas brasileiras, ao menos as de origens missionárias, alimentam-se do ideário da religião civil norte-americana. Como nem sem sempre as igrejas norte-americanas são fiéis ao antigo ideário dos fundadores da sua nação, consubstanciado na religião civil, há choques e atritos que se propagam como que em ondas até as igrejas brasileiras”.[14]
           
A presença dos missionários passa a ser um diferencial neste processo na visão de Bastian, pois eles poderiam exercer outros ofícios que na verdade somariam com as idéias liberais ligados ao capitalismo e aos Estados Unidos. Além de todos os seus predicados morais e espirituais o missionário era um agente da economia capitalista. A presença norte-americana também era notada com o auxilio de sua doutrina predestinatória do “destino manifesto” nos arredores latinos. 

Así de la misma manera que a lo largo de la frontera del oeste el o cristianismo evangélico coadyuvó a huamanizar las condiciones de producción em América Latina, los misioneros sentían como tarea esencial transmitir “alôs hermanos menores” la experiencia espiritural y material de la fronteira. Eran los portadores de este “destino manifesto”, cuya lección objetiva se leía em la realidad de los Estados Unidos. Creían que iban a conducir a los latinoamericanos de la tinieblas a la luz del progreso. Ellos decían tener la certeza u “la confianza de que el Dios que les había evangelizado primero y luego dinamizado, multiplicado, y bendecido sobre todos los demás países, armándolos con acero, vapor y luz eléctrica, y enviándolos a ser vanguardia de la humanidad” iba a dar uma nueva oportunidad a los hermanos latinos “para aceptar el evangelio y recobrar sus derechos de nacimiento”.[15] 
             
         Com diversos assuntos e áreas importantes que correspondem ao texto se faz atento a cada parte que envolve estes primeiros passos do protestantismo no continente latino-americano, esta atitude o faz perceber a importância da análise geográfica em seu discurso de expansão das sociedades protestantes. Pois, para ele o acesso a esta geografia permitiria uma imagem mais esclarecida dos elementos deste protestantismo, que por sua vez percorre diversas áreas tanto urbanas quanto rurais. Esta percepção geográfica fez com que Bastian se atentasse para o que estava por detrás da figura do missionário, pois em seu escrito ele faz uma afirmativa que tira do missionário esta função de semeador do protestantismo.[16] 

En otras palabras, no era el misionero el que había utilizado los canales liberales radicales y las redes ya existentes para difundir modelos asociativos protestantes que venían a reforzar reivindicaciones preexistentes de tipo liberal radical.[17]
           
Percebe-se um protestantismo não homogêneo, mas influenciado pelos meios de politização e pela economia como exemplifica o autor sobre a dinâmica produzida pelo café no Brasil. E sendo assim o protestantismo ganha força no Brasil fundamentado no eixo Rio, São Paulo e Minas Gerais, como também era visível o avanço do republicanismo. É clarividente que as sociedades protestantes tiveram progresso com o auxílio dos missionários americanos que tinham em sua bagagem missionária o convênio com maçonaria, onde também nem todos eram a favor desta parceria e o que veio acarretar no cisma Presbiteriana em 1903, mas é notória a influência e importância que este envolvimento teve para a propagação geográfica destas sociedades protestantes não só na América Latina, mas, também no Brasil. 

            O que proporcionou um crescimento e estabelecimento do protestantismo foi a postura conservadora do catolicismo na Europa, que tinha como pano de fundo sua oposição explicita ao liberalismo. Em contra partida Bastian propõe um despertar católico mais estruturado na maioria de suas áreas, não obstante, esta posição foi importante na escolha do pensamento positivista no Brasil, direcionado pelos liberais conservadores.

            A geografia para Bastian também era uma ferramenta indispensável para o estudo do avanço que atingiram as sociedades protestantes, e ao entrar neste assunto ele se atém primeiramente ao México, pois para ele foi o país pioneiro neste processo expansivo. Este movimento protestante iniciou em primeiro lugar nas regiões rurais devido ao seu ponto alto na economia que se deu em seu distanciamento dos centros estatais. O índice expansivo do protestantismo nas sociedades rurais é bem relatado segundo a ótica do autor, para ele foi isso que proporcionou um movimento gradual e importante dos protestantes. Crescimento que mais à frente ocasionou o encontro com os protestantes rurais e os urbanos. Um choque de ideais. Houve troca de benefícios, mas ao mesmo tempo havia uma conservação de ideologias entre ambos.

            Com os ideais políticos conservados, Bastian defende categoricamente que a presença de um missionário não teve muita influência na propagação do protestantismo, na visão dele quem teve maior participação neste processo foram os liberais radicais e as lideranças nacionais na corrente heterodoxa. E esta parceria foi o estopim para o início de um protestantismo moderno e capitalista. E essa idéia de implantação do protestantismo sem missionário se estendeu até o Brasil, segundo as pesquisas produzidas por ele, onde o mesmo percebe que o meio rural é um ótimo caminho para a proliferação de um protestantismo pioneiramente presbiteriano. A visão geográfica de Bastian é bem semelhante, ao tratar de expansionismo protestante entre México e Brasil, os moldes são os mesmos.

            Destaca-se também que o progresso do protestantismo não está separado do progresso do republicanismo brasileiro que estava em seu início, ambos andavam e cresciam juntos, percebe-se pela intenção do autor certa dependência e troca de benefícios entre ambos. A religião se embaraçando mais uma vez com a política.

            É evidente no texto de Bastian o destaque que ele dá ás associações que o protestantismo fez com a maçonaria, que em sua pesquisa mostra a projeção protestante impulsionada pela maçonaria e que por sua vez era alvo do catolicismo. Não obstante, esta aliança era uma realidade na sociedade e no protestantismo brasileiro.

La pertenencia a diversas sociedades no tardó en ser criticada por distraer los cuadros protestantes de su actividad exclusivamente religiosa. Fue, sin embargo, vana porque los mismos misioneros norteamericanos eram en su mayoría miembros de logias masónicas. En Brasil, el lazo entre las logias republicanas y las sociedades protestantes y sus primeros dirigentes fue particularmente estrecha . No deja de sorprender, sin embargo, el movimiento indepediente dirigidopor el pastor Carlos Pereira, quien realizó a partir de 1898 una campaña cuyo o tema era la imcompatibilidad entre la adhesión a la masonería y ser miembro de la Iglesia Presbiteriana, lo que provocó en 1903 un cisma en esta iglesia[18] .

            Em meio há tantas divergências, houve uma divisão proporcionada pela conveniência de alguns com maçonaria, esta cisão não interferiu no avanço geográfico e social do protestantismo, há um progresso na educação de pessoas analfabetas que não tinham acesso ao ensino que era restrito à elite, contudo as sociedades protestantes forneciam em suas comunidades ensinos primários e é bem nítido que os valores e intenções a favor da democracia estavam presentes, e é o que ele vai chamar de pedagogia liberal e democrática.

            O foco de Bastian em seu recorte temporal faz com que ele perceba os movimentos minuciosos do protestantismo e do catolicismo, enquanto o primeiro vai ganhando terreno o segundo vai se preparando para uma nova evolução. Ele mostra que o catolicismo não está inerte aos acontecimentos. O que se vê na verdade não é uma luta com preocupações religiosas, e sim de poder político. A oposição ao liberalismo é o que dá força para a ação do que ele chama de catolicismo conservador em contraposição ao catolicismo liberal que ocorria no mesmo período.

            Estes acontecimentos acarretaram diversas ações, como a separação da Igreja e Estado no Brasil que foi tida como positiva para a igreja católica que se via como imóvel perante as ações do império. Este rompimento deu liberdade à igreja que pôde desenvolver seus ideais sem prestar contas. Se por um lado o protestantismo se difundia, por outro houve um despertar católico, os colégios de ordem católica se reformularam e expandiram os seminários para a formação de líderes e tiveram projeção geográfica com o intuito de propagar e estruturar suas teses teológicas e políticas. Esse despertar colocou um freio no progresso protestante, mesmo que por pouco tempo.   

Protestantismo e institucionalização de Igrejas no Brasil

            Torna-se impossível falar em protestantismo no Brasil sem citar o catolicismo. A hegemonia católica sofrera um forte impacto com a política de penetração protestante. A passagem para o século XIX, foi importante para o avanço missionário na América Latina. As conferências de Edimburgo (1910) e no Panamá (1916) foram fundamentais, e serviram de críticas contra a forma religiosa aplicada pelo catolicismo. “A idéia da conferencia de Edimburgo de “cristianizar” como símbolo de “colonizar” era encarnada pelas missões no âmbito da teologia calvinista do “reino de Deus” e “povo escolhido”. O conceito de “reino de Deus” foi encampado pelo “sonho americano” assim como o de “povo escolhido” para expandir o reino”.[19]
           
            No século XIX o Brasil passa a ser o campo missionário em vigência. Os missionários norte-americanos dotados da teologia Wesleyana trazem em suas bagagens uma nova maneira de praticar a fé. Para o metodismo a conversão tinha um caráter totalmente individual, pregava-se um desligamento imediato com sua cultura e seu modo de vida pagão. Em seguida o meio conversionista passou a dominar as lideranças nacionais. O individualismo predominava e poderia causar um enfraquecimento nas igrejas institucionalizadas. A utilização da Bíblia também foi um dos motivos de conflitos. A interpretação que se faziam do texto eram voltadas para o estabelecimento de seus partidos e ideais religiosos.

 Congregacionais

            As diversas interpretações sobre os textos bíblicos e ideais religiosos diferentes serviram para o surgimento de vertentes protestantes no cenário religioso brasileiro. Dados históricos nos afirmam que a primeira corrente protestante a se inserir no Brasil foi o congregacionalismo no ano de 1855, Robert Kalley e sua esposa Sarah Kalley foram os fundadores da Igreja Congregacional no Brasil, vejamos o que dizem Antônio Mendonça e Prócoro Filho:

A Obra de Kalley, além de ser pioneira do protestantismo de missão no Brasil, insere-se no grupo de igrejas missionárias norte-americanas pela sua natureza teológica, a mesma dos avivamentos religiosos que ocorreram na Inglaterra e se transfeririam para os Estados Unidos na passagem do século XVIII para o século XIX.[20]

            O meio que os Kalley escolheram para a propagação de sua teologia foram os hinos de suas autorias, que continham suas visões e pensamentos acerca de do amor de Deus e do que significa o protestantismo. A crença e pregação no amor de Deus contribuíram para distinguir o teor da pregação produzida pelos pastores e teólogos puritanos ingleses. O amor de Deus pregado pelos Kalley é universal e não predestinado, contrariando a teoria calvinista e individualista da predestinação. O que podemos resumir da Igreja Congregacional é que sua linha doutrinária é bem conservadora e opositora de relacionamentos ligados ao ecumenismo e “sua composição social é de classe média; sua liturgia se situa no plano das Igrejas livres, isto é, não-litúrgicas, e sua atração simbólica é a da maioria das igrejas missionárias: quase nula.[21]

Presbiterianos

            O protestantismo de missão foi se estabelecendo em solo brasileiro de acordo com a liberdade religiosa consentida, logo após os congregacionais vieram os presbiterianos liderado pelo missionário norte-americano Simonton em 1859. Visto que a maioria dos missionários vindo para o Brasil são de origem norte-americana. A teologia e doutrina presbiteriana são tiradas de João Calvino. O presbiterianismo ainda contribui para o desenvolvimento da educação brasileira com suas escolas e Universidades. Mesmo com as divisões políticas e religiosas que resultaram em correntes presbiterianas diferentes o protestantismo trazido e praticado no Brasil tem suas grandes contribuições religiosas.

            Em seu aspecto presencial no solo brasileiro as missões presbiterianas carregam em suas categorias um caráter moralista, onde a postura e conduta humana tem uma interferência nas perspectivas soteriológicas. Segundo Antônio Mendonça e Prócoro Filho “a inserção presbiteriana no Brasil deu-se na camada livre e pobre da população rural. Atualmente, entretanto, seus membros situam-se predominantemente na camada média da população.”[22]

Metodistas

            A história registra que o crescimento dos metodistas tem um total envolvimento com a prioridade educacional dada a aberturas de colégios e universidades, não obstante, deu-se pouca atenção ao evangelismo, que era uma ferramenta bastante utilizada pelos presbiterianos e batistas. Sua teologia também é de origem norte-americana, porém, o seu crescimento não foi tão notório como as demais Igrejas protestantes. Contudo, o estabelecimento dos metodistas no Brasil se deu em 1886.

Batistas

            Assim como os metodistas e os presbiterianos, os batistas tiveram um interesse na educação, porém, não investiram em instituições de ensino como colégios e universidades. Os batistas tiveram sua origem registrada historicamente em 1882. O crescimento dos batistas se deu com a liberdade religiosa concedida pelo governo republicano e isso acelerou o seu crescimento que era tido como lento devido as objeções católicas. Sua teologia não difere muito das outras instituições, e isto deve-se a sua ligação com os missionários norte-americanos. O seu crescimento se relaciona com a sua localização urbana e sua intensa dedicação ao evangelismo.

Concluindo
        
         É um trabalho árduo e gratificante ao mesmo, se propor em fazer uma pesquisa sobre o a penetração e inserção do protestantismo no Brasil, e deixando de lado a veia religiosa e se ancorando principalmente em seus argumentos históricos. Foi preciso traçar um caminho relacionado ao protestantismo na América Latina, para então adentrar em suas ações e conseqüências. Acabamos de ver na presente pesquisa um país fechado de início, mais aberto com o passar do tempo e com as mudanças políticas em sua concepção religiosa. O estabelecimento dessas instituições trouxe benefícios para o Brasil, principalmente para a educação que teve avanço com a implantação de colégios e universidades.

            Portanto, ver o protestantismo no Brasil significa além de uma nova corrente religiosa, um meio de organização diferente do que antes era estabelecido. O acontecimento central destacado pela pesquisa está na sua ênfase no protestantismo e seus desdobramentos que traz uma unificação de fatos que encorpam e dão vida a este importante ocorrido que transformou e transforma corriqueiramente o cenário religioso brasileiro.   


Bibliografia

BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990.

DUSSEL, Henrique D. Caminhos da Libertação Latino-americana – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984. p 91

MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir: A inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo. Ed. EDUSP. 2008. p 38.

MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 13.




[1]  Monografia apresentada à disciplina História e Teologia do Cristianismo na América Latina, II semestre de 2015, com vista à aprovação na disciplina.
[2]     Mestrando em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP. Bacharel em Teologia pela Faculdade Unida – Vitória – ES. Licenciado em História pela Universidade do Grande Rio (UNIGRANRIO) – RJ.
[3]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 98
[4]    BASTIAN, 1990, p. 98. A escolha por este termo está bem esclarecida pelo o autor, que pretende informar a pretensiosa cisão com o centro e por fim formando novas correntes de forças independentes.
[5]     Descendentes de espanhóis nascidos na América.
[6]    Esta idéia de grito é bem exposta por Enrique Dussel, onde ele argumenta que este grito faz exigência a uma resposta imediata dando assim a responsabilidade devida à religião. “Tenho fome!”. DUSSEL, Henrique D. Caminhos da Libertação Latino-americana – São Paulo: Ed. Paulinas, 1984. p 91
[7]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 100.
[8]     BASTIAN, 1990, p. 101.
[9]     MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir: A inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo. Ed. EDUSP. 2008. p 38.
[10]     MENDONÇA, 2008. pp, 41-42.
[11]     MENDONÇA. 2008. p, 44.
[12]    BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, pp. 104-105.
[13]       BASTIAN, 1990, p. 106.
[14]    MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 13.
[15]     BASTIAN, Jean-Pierre. Historia del protestantismo en America Latina. México: Ediciones CUSPA, 1990, p. 132.
[16]     BASTIAN, 1990, p. 131.
[17]     BASTIAN, 1990, p. 135.

[18]     BASTIAN, 1990, pp. 138-139.
[19]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo. Edições Loyola. 2002. p, 32.
[20]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 34.
[21]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 35.             

[22]     MENDONÇA, Antônio Gouveia. FILHO, Prócoro Velasques.. 2002. p, 37.